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A mostrar mensagens de setembro, 2018

As meias

São as meias. Onde estão as minhas meias afinal? Caramba, isto antes eram tão fácil, era só abrir a gaveta e tirar umas meias, todas eram minhas, todas eram tuas. Tudo era partilha. Agora foste e levaste algumas coisas. Levaste tudo, atrevo-me dizer. Só me deixaste a mim. E agora, as minhas meias, onde estão? Eram todas nossas, não havia divisão. Habituei-me de tal forma que me perdi. Já nem consigo distinguir que meias são minhas. Pensei enviar-te estas por correio, uma vez que não as reconheço, não são "minhas". Posso pedir-te para veres se tens meias minhas? Parece absurdo. Que estúpida que sou, ninguém liga a meias. São só meias. Mas preciso delas para sair de casa, ir trabalhar, fazer a minha vida. Como é que vou fazer isso sem meias? (Sem ti?) Mas afinal são só meias. Talvez vá de sandálias, é mais fácil, assim não tenho de pensar. Não preciso de abrir a gaveta e olhar para aquele monte de meias, algumas sem par, perdidas, como eu. Cinzentas, pretas, azuis? Comprá
São duas horas de concentração, diversão e amor. Tinha-me esquecido da magia destas sessões com crianças diagnosticadas com autismo. É um novo mundo que se abre a cada sessão. Gostava de conseguir explicar com mais pormenor a ligação que se estabelece entre nós e a criança, mas não consigo. Acho que só participando é que se pode entender que o amor é muito mais complexo do que aquilo que imaginamos e que essa complexidade o torna, por incrível que pareça, simples. E começamos a conseguir ver, de verdade, com o coração, que os pequenos gestos, estão cobertos de carinho. Saio do trabalho exausta, por vezes, um pouco derrotada com situações pessoais. Não é o meu dia. Se calhar, neste momento em que me dirijo para lá não tenho muita vontade de ir. Mas tenho pela minha frente mais 2 horas de sessão com uma criança. Entro na sala, fecho a porta, ela olha para mim e o meu dia fica mais leve, o cansaço esbate-se, a frustração vai embora. Tudo é alegria, ela olhou para mim, estabeleceu co
Ele disse que não e nesse momento apercebi-me. Não foi um "não" diferente dos outros, eu é que se calhar estava num momento diferente da vida. E aquele "não" levou-me numa viagem no tempo para analisar em segundos várias relações algumas que ainda se mantinham, outras não. Uma viagem dura que terminou com uma convulsão de emoções e sentimentos que pareciam ter surgido devido àquele simples "não" , erradamente. Era apenas um não repetido no tempo. Uma rejeição não curada. Um abandono que não foi esquecido. Era a perpetuação da ideia de que a minha pessoa não é suficiente para manter as pessoas interessadas em permanecerem na minha vida, parte de mim, da minha vivência. A repetição da ideia de que as pessoas vão embora por minha causa, porque há algo em mim que falha e as faz dizer adeus.  Há pequenas feridas que parecem não ter muita importância. No entando, se não são tratadas, não desaparecem. Por vezes nem cicatrizam, ficam só ali, ferida aberta
Nunca quis saber dessas coisas. Sempre gostei do amor, mas não precisava de o ouvir todos os dias. O "amo-te" nunca foi uma palavra mágica para mim. Nunca ansiei enormes gestos, sempre gostei das coisas simples. Os anéis nunca foram sinal de compromisso. Algumas coisas até chegavam a irritar-me: os casais que se estão sempre a abraçar, tocar e beijar; as frases intermináveis para mostrarem o quanto gostam um do outro (perdão, o quanto se amam, porque gostar é pouco), quase como uma competição para ver quem é o mais romântico ou quem gosta mais; a chuva de prendas, por vezes sem um significado mais profundo do que esse mesmo "olha, uma prenda" . Tantas outras coisas que nunca quis, nunca precisei e para mim nunca fora sinónimo de amor, ou de uma relação saudável. Continuo a achar o mesmo. Mas não consigo evitar, por vezes, de olhar para nós e pensar: "Foi isso que nos faltou?" , essa dose sem sentido nenhum de comportamentos estranhos que não significam
Estou só. Tão só, só, só que nem consigo explicar e vejo as pessoas e falo com elas e quero gritar que  Estou só Tão só, só, só que só me apetece  calar fugir deixar-me cair deixar o mundo ruir. Estou só. Tão só  que nem quero companhia Tão só que me dói  e só me quero esconder de mim de ti da própria solidão. Estou só. Estamos todos. E será sempre assim. Sós Todos nós  Sós. No meio da confusão No meio da multidão Num turbilhão de emoções que querem rebentar e só me apetece gritar as palavras não saiem se conseguisse falar explicava o quão só estou. Tão só, só, só.