Avançar para o conteúdo principal

Se eu não gostar de mim, quem gostará?

Não existem razões. Quanto mais falamos, mais nos desentendemos. "A linguagem é uma fonte de mal-entendidos". Bem verdade. Não se trata aqui de amar menos ou mais. Ninguém é ninguém para me dizer que eu amo menos que este ou que aquele. O amor não se pesa.
Penso que toda a gente vê o amor como algo positivo, o problema está nessa definição de amor. Aí, penso que não temos todos a mesma ideia. Não olhamos o amor todos da mesma forma, o que se liga com aquilo que somos. Conforme construímos o nosso "eu", vemos o amor de determinada forma. Se calhar, vamos mudando às vezes, não sei bem, não sou nenhuma especialista.
Só sei que para mim o amor é simples. E não sei lidar com muita coisa que às vezes atribuem ao amor. No outro dia perguntavam-me "Mas tu não te prendes às pessoas?" e noutra vez disseram-me "Tu és diferente. Tu não te prendes, não te dás!". Eu fiquei a pensar naquilo, juro que fiquei. Será verdade que não me prendo, não me dou? Será que por achar que no amor as pessoas não se devem anular, que devem continuar a ter um "eu" próprio fora do "nós" da relação, que as pessoas pensam assim a meu respeito? Talvez. Mas sim é verdade, é nisso que acredito. Uma relação não destrói (ou não deveria destruir) aquilo que a pessoa é na sua essência. Defendo que as pessoas não devem modificar completamente as suas vidas; acho que de outra forma as pessoas não estão a amar, mas sim a apagar-se.
Além disso, onde fica aquela ideia do "Se eu não gostar de mim quem gostará?"; para mim faz todo o sentido continuarmos a pensar em nós, naquilo que somos e a preocupar-nos com quem somos, sermos singulares. Porque se não soubermos ser um, sós, independentes, equilibrados no nosso mundo, mundo esse onde nos sentimos bem, amenos e tranquilos, não saberemos passar o que somos ao outro, mostrar a nossa essência, a nossa realidade. Nunca poderemos partilhar o nosso mundo, simplesmente porque ele não existe, e se chegarmos a entrar no mundo do outro, perdemos o nosso, pois não o temos construído numa base segura. A nossa base passa a ser a pessoa amada e quando algo corre menos bem com ela, o nosso mundo rui...
Por isso, sim, sou egoísta, insensível, fria, o que quiserem chamar. Sou parva e não sei lidar com relações. Fujo e não gosto de dar justificações. Afasto-me, sinto-me mal. Sim, é verdade e sê-lo-à sempre. Porque algumas atitudes vão contra aquilo que sou e eu não consigo aceitá-las, não sei lidar com elas e apetece-me esconder-me num local longe onde não tenha de me preocupar com pormenores que não conheço.
Eu aceito e compreendo outras ideias de amor. Só não funcionam comigo, não consigo pô-las em prática, o que não significa que para outras pessoas não funcione muito bem. Gosto de fazer a minha vida, ter alguma independência e individualidade. Não gosto de me sentir presa, pressionada e com imposições. Não gosto disso.

Sou mesmo assim, não sei ser diferente.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Paixão

Sei que a maioria das pessoas diz que a paixão é temporária, o que importa mesmo é que exista o amor verdadeiro e companheiro. Mas, desculpem-me, eu cada vez concordo menos com isto. Cada vez acredito mais que a paixão é realmente importante e completa o sentimento de amor. A paixão é todo o desejo, impulso, fogo que sentimos pelo outro; o amor é mais calmo, mais estável até, por isso é que muitas vezes amamos, só que a paixão não está lá, o que faz com que algo não esteja bem, sentimos que falta algo, sem saber bem o quê. É preciso que se cultive a paixão, que se vá alimentando a fogueira, porque esta paixão foi muitas vezes aquilo que nos fez dar o primeiro passo, atirar de cabeça. Esta paixão foi aquele desejo súbito de estar com o outro, de nos entregarmos, mesmo que sem segurança nenhuma, sem nada que nos dissesse "é para valer" ou "vai dar tudo certo". Esta paixão é a vontade pura e primeira do outro, da sua pessoa e do seu corpo. Acredito que é, frequentem...

a vontade

Às vezes, vem a vontade a vontade de te ver sempre de estar contigo sempre de esquecer que tudo o resto existe e aí, venho embora, e procuro voltar a mim prefiro ter essa vontade aguentá-la,  diluí-la no tempo esticá-la,  fazendo-a durar, do que acabar com ela logo de uma só vez rapidamente, sem pensar e quase sem sentir então escrevo penso, pinto,  sonho,  grito, abraço essa vontade e trago-a comigo lá no fundo do peito como companhia E quando te volto a ver deixo-a sair para a sentir de novo e deixar que me invada e me faça feliz por te ver por te ter por estar contigo  e sentir novamente aquela vontade louca sem sentido de esquecer tudo o resto e sou só ali contigo eu e a vontade e todos os outros sentimentos e sensações e tudo e tudo. Para depois voltar a mim para que possa voltar para ti sem me esquecer de quem sou e de quem tu és independentes um do outro.

Dizer adeus no trabalho

Não nos preparam para isto. Nunca ninguém me falou disto e nunca pensei passar por isto desta forma. Mas a verdade é que nas profissões da área social, não é possível ignorar a parte relacional. Aliás, essa é a parte mais importante do nosso trabalho, as relações significativas que criámos com as pessoas, com os utentes ou clientes, como lhes quiserem chamar. São pessoas. Pessoas a quem nos ligamos, de quem gostamos e de quem sentimos saudades. Sim, nem todos os dias são cor-de-rosa e nem sempre saímos do trabalho com um sorrido no rosto. Mas isso não significa que não gostemos dessas pessoas. Só que ninguém nos prepara para o momento em que temos de sair. Principalmente, quando sair não é uma decisão nossa. É um murro no estômago, e levantam-se tantas questões: - o que lhes dizer, como lhes explicar? - quando lhes dizer? - como ajudar a conter as suas emoções, quando as nossas emoções também estão à flor da pele? - como deixar para trás anos de relação, de acompanhamento, ...