Avançar para o conteúdo principal
De novo o vazio. Não sei porque é que à noite parece sempre tão mais difícil, e hoje parece que me pesa ainda mais, porque estou sem ti. Sempre fui uma pessoa meio melancólica, se assim se pode dizer. Muita gente não o sabe, a maioria não repara, mas nesse aspecto eu conheço-me. Penso muito, recordo, tenho saudades, volto ao passado e fico lá por uns tempos. E nestas noites de vazio sozinha recordo tudo o que possa recordar e, normalmente, partes da minha vida que me magoaram ou que foram felizes, mas não voltarão a acontecer. É neste momento que vejo que muita coisa que aprendo na faculdade faz sentido, porque de facto é assim que funcionamos. Acho que num momento qualquer achei que ao estudar psicologia, teria o conhecimentos sobre várias coisas, nomeadamente sobre os problemas que as pessoas por vezes podem enfrentar, sintomas, patologias, tratamentos, etc, e que, como teria esse conhecimento, saberia manter-me afastada de tudo isso. Porém, isto não funciona assim. No meu caso, pelo menos, não funcionou.
Olho para mim, sei identificar algumas das coisas que não estão bem mesmo, não faço diagnóstico nenhum, mas sei que precisava de alguma ajuda para lidar com algumas coisas. Eu sei, mas tenho medo por um lado, vergonha por outro e por fim, às vezes, estou em negação. Tu sabes, Inês, que algo se passa. Sabes, já pensaste tanto sobre isso, já choraste sobre isso, já não dormiste com isso na tua mente.
Hoje achava-me bem de novo, mas a vida, os dias, as horas, os minutos e segundos dão muitas voltas e então comigo sempre deram mais. Sou um pouco instável, apesar de muita gente me achar calma, o meu interior está sempre de pernas para o ar. Ultimamente ando muito mais tipo iô-iô, acima-abaixo. Luto contra mim e contra tudo. Sinto-me perdida, não sei para onde me virar. 
Nestas noites assim, com este vazio, o que sinto é que nada faz sentido na minha vida. Que nada nunca fez desde o início: o divórcio dos meus pais, os problemas do meu pai, a saída do meu pai do país e a falta que me faz cá, apesar de tudo, a insegurança, as relações falhadas, as facadas nas costas, as traições perdoadas, a morte dos meus avós, as chatices com a minha mãe, o perceber que serei sempre o seu saco de batatas, a morte do meu cão, os bloqueios, as minhas raivas constantes, a minha sensação de vazio, tristeza, o sentir-me perdida, o sentir-me sozinha, o não me sentir bem comigo, neste corpo, na minha pele... O buraco no peito... Tudo isto me passa pela cabeça agora, tudo se torna tão claro e, ao mesmo tempo tão confuso. A verdade é que me estou a sentir empancada, presa, bloqueada em mim. Isto não tem nada a ver com ninguém, tem a ver comigo e só comigo. Penso e repenso, talvez esteja aqui até amanhã a pensar em tudo e em nada. Lembro-me que há muito que não deixava as ideias simplesmente passarem para o papel, sem pensar em nada do que digo, escrevo... Acho que comecei a ter vergonha disso, porque comecei a dar-me mal comigo própria e com vergonha do que se passava na minha cabeça e, se tenho vergonha, não escrevo. Tenho vergonha sim, porque são coisas que nunca fizeram parte de mim, nunca tive estas preocupações e agora elas ocupam a minha mente 24h por dia - tenho vergonha de dizer o que é, pior, tenho vergonha que me possam confirmar que o é de facto. Porque se por um lado quero ajuda, por outro apetece-me mandar tudo para o caraças, rejeitar qualquer mão que me queira ajudar, esquecer este mundo e o outro e deitar-me na minha cama encolhida, abraçada aos meus joelhos e chorar. Apetece-me gritar, gritar, gritar e rasgar o papel. Apetecia-me pintar, pegar numa enorme tela e em todas as cores e pintar, passar para a tela a minha raiva, o meu mundo, os meus pensamentos, tudo aquilo que sinto e não sei o que é, coisas com as quais não sei lidar e quero que saiam de mim.
Lembro-me como era dantes, sempre feliz e contente, saudável, a praticar exercício todos os dias, em forma, bem. Mas, penso também que poderá ter sido aí que o problema começou e eu nem dei por isso, só quando o processo se inverteu é que comecei a sofrer.Sendo assim, tudo deve ter começado em Dezembro de 2010, ou antes provavelmente; pesava 55kg na altura e sentia-me bem, mas na verdade acho que já não estava e nunca mais estive deste então.
As pessoas falam sobre esse período da minha vida, mas falam sem saber. Na altura fizeram comentários que me magoavam sim, me faziam sentir mal, porque eu sentia-me bem como estava. Agora fazem outro tipo de comentários, mas que me incomodam de igual forma ou talvez mais. Quem está de fora não compreende muito bem, mas se fizer um esforço pode até ajudar. A culpa também é minha por me esconder. Escondo porque toda a gente acaba por falar das coisas sem saber que eu estou a passar por elas. Eu ouço e calo-me, como se nada fosse, mas cá dentro... 

A verdade neste momento é só uma e não me posso esquecer dela: não estou bem. Tenho de ter isto em mente para me poder ajudar, tenho de ter isto em mente para ser capaz de segunda-feira ir à médica e dizer o que se passa, tenho de ter isto em mente para poder reagir, tenho de ter isto em mente...mas só me apetece fugir, esconder, ficar quietinha no canto e não falar disto a ninguém. Só queria deitar-me agora tão bem como dantes. Era o que eu queria.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

When you're strange...

Há dias em que sinto que não encaixo em lado nenhum. Mas há outros dias, a maioria dos dias ultimamente, em que gosto de ser assim meia estranha, acho até divertido sentir-me meia deslocada e acho interessante. Sempre achei piada àquelas personagens dos filmes que eram diferentes, de diferentes formas. Mas há sempre aquela personagem que, não sendo super linda e inteligente, nem chamando a atenção de todos por nenhuma razão especial, é uma personagem interessante. Eu gosto disso. E gosto de me sentir assim. Conheçoa algumas pessoas a que eu chamaria de "estranhas" que são assim e eu gosto. Conheço pessoas que parecem "estranhas" mas no fundo não são.  Eu gosto de pessoas estranhas, porque são diferentes, cada uma à sua maneira. Pensam por si próprias, desenvolvem ideias, agem e estão com as pessoas sem pensar no que as outras pessoas pensam. Eu gosto disso.  Se calhar todos somos estranhos à nossa maneira. Eu gosto deste tipo de estranheza mais do que as outra...

Paixão

Sei que a maioria das pessoas diz que a paixão é temporária, o que importa mesmo é que exista o amor verdadeiro e companheiro. Mas, desculpem-me, eu cada vez concordo menos com isto. Cada vez acredito mais que a paixão é realmente importante e completa o sentimento de amor. A paixão é todo o desejo, impulso, fogo que sentimos pelo outro; o amor é mais calmo, mais estável até, por isso é que muitas vezes amamos, só que a paixão não está lá, o que faz com que algo não esteja bem, sentimos que falta algo, sem saber bem o quê. É preciso que se cultive a paixão, que se vá alimentando a fogueira, porque esta paixão foi muitas vezes aquilo que nos fez dar o primeiro passo, atirar de cabeça. Esta paixão foi aquele desejo súbito de estar com o outro, de nos entregarmos, mesmo que sem segurança nenhuma, sem nada que nos dissesse "é para valer" ou "vai dar tudo certo". Esta paixão é a vontade pura e primeira do outro, da sua pessoa e do seu corpo. Acredito que é, frequentem...

Nota: Be present / Be happy

Remember those moments when you felt so blessed to be alive, when you were so present that everything around you was beautiful, amazing, a gift. Remember moments with other people, when you felt so happy, remember travels when you felt so free, remember the nature, that you observed so many times, that makes you feel that you're in the right way, with all its beauty. Now, in this challenging moment, look around you and find all this beauty and bliss in things that are around you, right now. Open your eyes and your mind too, cause I'm sure you will find it. You´re strong and wonderful and the world around is getting better, more beautiful, more wonderful everyday.. so don't miss it... Be present in every moment and you will find beauty everywhere. Your right now moment is a blessing, so just that it's enough to make you open your eyes every second with a smile on your face and a feeling of gratitude inside. I don't believe in God but I believe in ...