Todos os dias tento partir para a luta. Às vezes consigo aguentar-me durante algum tempo, mas acabo por cair de novo. Parece um vicio, uma praga, um vírus que me apanhou e nunca me vai largar. E tenho medo mesmo que nunca me venha a largar. Vivo como se fosse duas pessoas - a psicóloga e a paciente - ouço-me e respondo, mas o lado da paciente ganha sempre e a psicóloga nunca consegue fazer vencer os seus argumentos. Eu sei que ela tem razão, mas não sei bem porquê não consigo fazer o que ela diz. Quando a psicóloga fala, parece fácil e a paciente pensa logo "eu consigo fazer isto, eu consigo alcançar o equilíbrio, eu consigo ser essa pessoa", mas quando chega a noite e a paciente fica sozinha - quando o namorado vai para casa e toda a gente já dorme -, aí não há psicóloga para ninguém, só a paciente e o seu problema. E ela é capaz de devorar tudo se a compulsão vier, tudo o que há em casa, sem pensar, quase sem saborear, até ficar mal-disposta. Depois, a paciente culpa-se...