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São duas horas de concentração, diversão e amor.
Tinha-me esquecido da magia destas sessões com crianças diagnosticadas com autismo. É um novo mundo que se abre a cada sessão. Gostava de conseguir explicar com mais pormenor a ligação que se estabelece entre nós e a criança, mas não consigo. Acho que só participando é que se pode entender que o amor é muito mais complexo do que aquilo que imaginamos e que essa complexidade o torna, por incrível que pareça, simples. E começamos a conseguir ver, de verdade, com o coração, que os pequenos gestos, estão cobertos de carinho.
Saio do trabalho exausta, por vezes, um pouco derrotada com situações pessoais. Não é o meu dia. Se calhar, neste momento em que me dirijo para lá não tenho muita vontade de ir. Mas tenho pela minha frente mais 2 horas de sessão com uma criança. Entro na sala, fecho a porta, ela olha para mim e o meu dia fica mais leve, o cansaço esbate-se, a frustração vai embora. Tudo é alegria, ela olhou para mim, estabeleceu contacto, reconhece que eu estou aqui e algo em mim é suficientemente interessante para que, no meio de todos os estímulos que está a receber naquele pequeno grande cérebro, ela olhe para mim e queira interagir comigo. Não é lindo? Não é mágico?
É uma criança com dificuldade em interagir com os outros, sim. No entanto, passamos a sessão a brincar, a estabelecer uma ligação e, mais importante, a divertirmo-nos. Volto a ser criança. Não, volto a ser eu. Aqui, nesta sala, existe um mundo sem julgamentos, para ela, mas também para mim. Aqui posso ser eu e a criança pode ser ela. Cada uma de nós, mostra o seu verdadeiro eu. Aqui tudo é possível. Criamos um mundo ideal, utópico, real, aqui para nós. E somos felicidade e amor.
Nunca soube muito bem quem ganha mais com estas sessões: a criança? eu? os pais? Os pais agradecem-me, como se eu estivesse a fazer um enorme favor, mas eu também ganhei tanto. É uma terapia mútua, não sou mais terapeuta do que a criança. Ali, somos as duas importantes, a terapia não funciona só com uma de nós.
Ela (e todas as outras crianças com quem já trabalhei) ensina-me a ser eu, liberta-me de preconceitos e julgamentos e mostra-me que eu sou suficiente, porque é um espelho daquilo que também eu lhe mostro. Eu aceito-a como é, e ela mostra-me o seu mundo, desenvolvendo a nossa relação, provando ao mundo que é, sim, capaz de se relacionar com os outros. 
Só precisa de aceitação. Só precisa que não a julguem. Só precisa de saber que ela é suficiente. Só precisa de saber que, de qualquer forma, há amor no mundo para ela.
Afinal, não é isso que todos nós precisamos?

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