Por motivos de trabalho estava a procurar na internet umas músicas do Bob Dylan, mais propriamente "Blowing in the wind". Encontrei, como sempre, várias versões e também, como sempre, fiquei confusa com tanta variedade. Lá carreguei numa. Era realmente a música que eu procurava e fiquei especada a ouvi-la, completamente deliciada.
Era a música, sim. Apenas com harmónica.
Lá no meu inconsciente pensei que me fazia lembrar alguma coisa. Havia algo que eu queria recordar, mas que estava fechado a sete chaves no baú velho das nossas memórias, que apesar da pouca idade que tenho, já estão guardadas memórias de dezoito anos. Ah. E quase me vieram as lágrimas aos olhos. Ah... era isso afinal. A harmónica.
Lembraste de quando tocavas para nós? Apesar de tudo conseguias ser uma pessoa tão alegre. Sei que muitas coisas devias fazer para te distraíres, mas agora que olho para trás penso que nos fazias muito feliz apenas a tocar harmónica. Uma música, qualquer que ela fosse. E nós todos, os netos, olhávamos para ti a sorrir, enquanto tu tocavas uma música de improviso (ou pensavamos nós que o era, mas tu já a sabias bem) e fazias aquela cara de menino maroto que sempre vi em ti. E nos dias em que o cansaço da vida te deixava mais cabisbaixo, eras como um menino triste, amuado, a quem lhe tinham tirado todos os brinquedos. E de facto tinham-te tirado todos os brinquedos. Razões tinhas tu para estares assim.
Hoje, agora, vendo-te uns anos atrás, pareces-me ainda mais menino e vejo-te agora com um grande sorriso na cara, sinto o teu beijinho na bochecha e cai-me uma lágrima ouvindo-te dizer "Nininha".
Sei que quando entrar naquela casa não vais estar lá, já não estás lá há muito tempo...
Mas cá estarás sempre, meu querido avô Fernando. Meu menino.
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