Existem momentos em que a nossa vida muda, mas muda radicalmente, de maneira que perdemos o controlo total, pelo menos por instantes, do rumo a seguir.
Tudo mudou e eu já nem sequer reconheço quem sou, porque tudo o que tinha de mais valioso e mais próximo de mim se transformou. Parece que perdi o chão e sinto-me perdida. Sei que o adjectivo perdida tem uma conotação um tanto ou quanto negativa; apesar de, às vezes, reconhecer e sentir na pele esse valor prejorativo, também lhe encontro um valor enriquecedor. Sinto-me perdida porque não sei nada. E não sabendo nada, estando de mãos vazias, eu sou acima de tudo livre. E sinto-me acima de tudo eu.
E nos meus momentos sós, que últimamente têm sido mais, porque a vida o quis e eu, às vezes, escolho, fico a olhar o mar em toda a sua fúria nestes dias frios de Outono, ou ligo o meu rádio e ouço os 80 e 90, fico ali a curtir o meu som, a minha onda, aproveitando esta droga que me transporta para um mundo para lá do real onde a minha cabeça viaja sem pousar em lugar algum, dando-me, no final, a sensação de leveza e paz; outras vezes de vazio. A música é uma droga legal que conduz a nossa mente e corpo para um extase diferente, para uma plenitude que está além do que fisicamente existe.
Nestas alturas em que estamos sós, procuramos a solução no sitio errado. Procuramos o prazer fácil, algo que nos distraia, que nos ocupe e que ao mesmo tempo nos faça sentir bem. Pode ser passageiro, não interessa, desde que naquele momento exacto nos eleve, nos leve ao auge. Que interessa como vou estar amanhã de manhã, desde que este dia, esta tarde, esta noite tenha valido a pena. A pior parte é que, apesar de tudo saber tão bem, nos estamos a enganar a maior parte do tempo, pois sabemos que daqui a nada esse prazer acabou, está fora.
Há uma necessidade de esconder o que realmente está dentro de nós dos que nos rodeiam. Até porque não sabemos como deitar os sentimentos cá para fora. É um emaranhado de sentimentos confusos, interligados, rompidos, torcidos e quebrados a explodir aos poucos no nosso interior e teimando em não sair. Porque, como dizer que sentimos falta de um pouco de amor e carícias, mas que queremos mais do que tudo a nossa liberdade? Que desprezamos compromisso, porque é mais fácil, porque nos facilita a vida, porque não temos com que nos preocupar, porque estamos cansados? E, no fundo, a ideia de uma relação estável também nos agrada, porque existe sempre alguém a quem pedir um carinho ou, sem o pedir, o recebemos.
Porém, há sempre um orgulho maior, um medo gigante de arriscar outra vez, de mergulhar de cabeça nesse turbilhão que é o amor. Porque é mais fácil saltar em grande para um noite de pura diversão sem pensar em mais nada. Apesar de amanhã acordar, abrir os olhos e estar só; mas ter mais um dia, sempre diferente e sempre igual. Para ligar o meu rádio, ouvir a minha música, lembrando tudo, reconhecendo que aquele pequeno momento valeu a pena, foi bom, pegando no pincel, aproveitanto a inspiração da aventura que já passou e saber que este dia será mais um para me conhecer melhor, para me encontrar e chegar mais perto do que procuro.
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