Sempre achei que estas palavras faziam sentido na minha vida, que as queria preservar. Sei que já cometi erros e também foi daí que aprendi muita coisa. Não quero com isto dizer que "não tenho papas na língua" e que digo tudo o que me vem à cabeça, não. Tento ter cuidado na forma como digo as coisas e muitas coisas guardo para mim, por achar que não têm importância necessária para "incomodar" outras pessoas, ou seja, há coisas que nós pensamos, mas que não vão trazer nada de novo ou de bom para a pessoa com quem estamos a falar.
Mas há outras que se calhar são.
Se eu quero estar numa relação de verdade e sinceridade, se espero que o outro seja sempre sincero comigo, de forma a poder confiar nele, tenho também eu de defender essa sinceridade e transparência e ser seguidora destes valores. Normalmente, isso não me parece complicado. Só que, por vezes, acontecem situações, que nós sentimos que deviam ser ditas, mas também sabemos perfeitamente que vamos magoar imenso o outro. O que fazer? Não é fácil.
Eu optei por falar, porque senti que algo me estava a incomodar e a influenciar essa minha relação e, portanto, não seria justo para a outra pessoa não saber o que se passava, uma vez que acabava também por a afectar. Não foi fácil e não sei se o que fiz foi o mais correcto, mas ao contar, por um lado, senti um grande alívio de saber que não estava a esconder nada; apesar de logo a seguir surgir outro grande sufoco que foi olhar para a pessoa que estava à minha frente, que eu amo mais que qualquer outra coisa e sentir que a destruí por dentro, que ficou desfeita. Desfiz-me, paralizei, bloqueei.
Saiu o peso de estar a omitir algo importante e veio a culpa. Como é que fui capaz de o magoar tanto? Valeu a pena? Era de facto necessário ter dito tudo?
Continuo a pensar que ter falado não pode ter sido errado, porque uma relação tem de ser aberta e as duas pessoas devem poder falar sem problemas dos seus sentimentos e do que as incomoda, só nessa aceitação é que a relação pode funcionar. Fez-me sofrer, partiu-me o coração. Senti-me tão pequena, envergonhada, triste e má por te ver com lágrimas nos olhos. Cada palavra que eu dizia era uma faca no meu coração e imagino que também no teu. Também as tuas palavras me feriam porque continuavas a mostrar um amor tal, mesmo depois de eu te magoar desta maneira, apesar de toda a tristeza nos teus olhos e da pura desilusão. Não acredito que muita gente conseguisse agir como tu. Eu própria, ao pensar que te ia contar tudo, imaginava uma atitude totalmente diferente. Achei que ficaríamos por aqui, arrisquei na mesma, porque achei que a relação não faria mais sentido a partir do momento em que eu começasse a guardar segredos.
De facto, depois de tanta, mas tantas situações e dificuldades que passámos, tantas barreiras e obstáculos, tanta gente contra, tanta complicação, tantos problemas, tantas coisas que diariamente enfrentamos juntos, sim, acho que é maravilhoso como aqui estamos e vale a pena continuarmos assim, juntos.
Sei que ainda te dói, é tudo muito fresco, eu também ainda sinto esta culpa e tenho um pouco de vergonha de te olhar nos olhos, mas isso é porque te amo. Sei que nunca quis, de facto, magoar-te, apesar de o ter feito. "De boas intenções está o inferno cheio" não é?
Mas, nunca, em momento algum, quis fazer-te sofrer e penso que sabes isso, se não também terias tido outra atitude.
Sei que és uma pessoa especial, mesmo. E eu amo-te muito.
Não me posso arrepender de ser transparente contigo. A sinceridade também é amor.
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