Avançar para o conteúdo principal

Cartas para ti VII

10.09.2014


(estes dias contigo têm sido claramente das melhores coisas que me aconteceram ultimamente, obrigado)

Hoje foste embora e, apesar de o meu coração se sentir um pouco apertado por não saber ao certo quando volto a ver-te, sinto simultaneamente uma alegria genuina ao saber que vais. Alegria por te ver alcançar e realizar algo que realmente querias, alegria por te ver dar mais um passo em frente nos teus planos, alegria por imaginar as aventuras e experiências fantásticas que vais viver e que tanto tens procurado na tua vida. Quanto penso nisso, sinto o coração cheio e uma alegria imensa. Este é o teu momento, a tua vida, aquilo que tu queres e é só isso que interessa. Digo isto com alegria e amor no coração. De verdade. Quero que esta experiência seja tudo aquilo que procuras.
Mas confesso, parte da minha alegria também existe pela dificuldade que sentiste ao ir embora, em deixar-me pela última vez. 
Sim, senti alegria ao ver que també custou deixar o meu abraço, dar-me um último beijo e tocar-me uma última vez. Senti alegria ao perceber que nesse último momento partilhámos da mesma frustração, da mesma insatisfação, da mesma vontade de nos termos e de nos disfrutarms livremente, só mais uma vez, só mais uma noite juntos, por favor, só mais uma noite que dure a eternidade necessária para calar a saudade que virá a seguir.
Hoje partiste, mas deixaste comigo todas as memórias dos momentos infinitos que partilhámos. Apercebo-me, ao recordar a intensidade com que vivi cada minuto contigo, da nossa cumplicidade, da evolução do nosso à vontade, apercebo-me da grandiosidade dos toques, dos gestos, das conversas e dos silêncios. Apercebo-me que, em alguns momentos, me esqueci que irias partir em breve. E ainda bem. E, por outro lado, sempre uma parte de mim sentiu que haveria um prazo, um limite, que impeliu a viver e beber cada momento até ao fim, até já não sobrar nenhuma gota, sem deixar nada na chávena como faço com o café e com o chá. Contigo não queria deixar nada a desperdiçar, quis beber cada pedaço de ti. E bebi tudo, abracei tudo, deixei que tudo se entranhasse em mim e em tudo o que sou. Deixei que tudo o que recebi de ti me preenchesse. E agora que foste, pensei que tudo iria embora contigo. Mas fico feliz que tal não tenha acontecido. Enganei-me, deixaste ficar tudo isso comigo...e terás levado contigo também tudo o que sou, tudo o que dei, tudo o que te entreguei, tudo o que partilhei e deixei voar por aí, livremente, quando estava contigo. 

Se assim foi, teremos de nos encontrar de novo, se não por outras razões, para nos devolvermos um ao outro.




Comentários

Mensagens populares deste blogue

Paixão

Sei que a maioria das pessoas diz que a paixão é temporária, o que importa mesmo é que exista o amor verdadeiro e companheiro. Mas, desculpem-me, eu cada vez concordo menos com isto. Cada vez acredito mais que a paixão é realmente importante e completa o sentimento de amor. A paixão é todo o desejo, impulso, fogo que sentimos pelo outro; o amor é mais calmo, mais estável até, por isso é que muitas vezes amamos, só que a paixão não está lá, o que faz com que algo não esteja bem, sentimos que falta algo, sem saber bem o quê. É preciso que se cultive a paixão, que se vá alimentando a fogueira, porque esta paixão foi muitas vezes aquilo que nos fez dar o primeiro passo, atirar de cabeça. Esta paixão foi aquele desejo súbito de estar com o outro, de nos entregarmos, mesmo que sem segurança nenhuma, sem nada que nos dissesse "é para valer" ou "vai dar tudo certo". Esta paixão é a vontade pura e primeira do outro, da sua pessoa e do seu corpo. Acredito que é, frequentem...

a vontade

Às vezes, vem a vontade a vontade de te ver sempre de estar contigo sempre de esquecer que tudo o resto existe e aí, venho embora, e procuro voltar a mim prefiro ter essa vontade aguentá-la,  diluí-la no tempo esticá-la,  fazendo-a durar, do que acabar com ela logo de uma só vez rapidamente, sem pensar e quase sem sentir então escrevo penso, pinto,  sonho,  grito, abraço essa vontade e trago-a comigo lá no fundo do peito como companhia E quando te volto a ver deixo-a sair para a sentir de novo e deixar que me invada e me faça feliz por te ver por te ter por estar contigo  e sentir novamente aquela vontade louca sem sentido de esquecer tudo o resto e sou só ali contigo eu e a vontade e todos os outros sentimentos e sensações e tudo e tudo. Para depois voltar a mim para que possa voltar para ti sem me esquecer de quem sou e de quem tu és independentes um do outro.

Dizer adeus no trabalho

Não nos preparam para isto. Nunca ninguém me falou disto e nunca pensei passar por isto desta forma. Mas a verdade é que nas profissões da área social, não é possível ignorar a parte relacional. Aliás, essa é a parte mais importante do nosso trabalho, as relações significativas que criámos com as pessoas, com os utentes ou clientes, como lhes quiserem chamar. São pessoas. Pessoas a quem nos ligamos, de quem gostamos e de quem sentimos saudades. Sim, nem todos os dias são cor-de-rosa e nem sempre saímos do trabalho com um sorrido no rosto. Mas isso não significa que não gostemos dessas pessoas. Só que ninguém nos prepara para o momento em que temos de sair. Principalmente, quando sair não é uma decisão nossa. É um murro no estômago, e levantam-se tantas questões: - o que lhes dizer, como lhes explicar? - quando lhes dizer? - como ajudar a conter as suas emoções, quando as nossas emoções também estão à flor da pele? - como deixar para trás anos de relação, de acompanhamento, ...