Avançar para o conteúdo principal

Deixei o chão e abracei o ar

Deixei o chão e abracei o ar. Despi-me do peso das roupas, dos pensamentos e dos sofrimentos. Cai no meio do turbilhão e da ilusão. Pensei que seria um abismo tudo isto, mas afinal é só uma mudança. Sou um ser mais leve, à medida que me deixo ir. É outra espécie de luz. Não morro, mas renasço, ainda nesta vida, com tempo de voar para outro lado. Libertei as ideias, elas agora andam por aí soltas, ao vento. Nunca couberam todas na minha cabeça, era urgente permitir que se fossem. Pertencem-me, mas não preciso que fiquem em mim. Tal como amor. Pertence-me, mas não fica em mim. Porque não pode, porque não deixo. Porque não nasceu para ficar preso, nasceu para ser dado, oferecido, para ser um malandro que vai com todos e com todas. O amor é um rodado, diriam alguns, mas eu gosto dele assim. Sem preconceitos, sem limites. Dá-se com todos, oferece-se a todos, não tem inibições. E eu um dia gostava de ser como ele. Um dia eu também quero ser amor, tornar-me na forma mais personificada que ele pode assumir. E só amar, ser só amor para dar, para crescer, para criar, cultivar e cuidar. Ser só amor. Ser só dar. Ser só, sentir só. Um dia eu quero ser amor e acredito que é o sonho mais realista que pode existir.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Paixão

Sei que a maioria das pessoas diz que a paixão é temporária, o que importa mesmo é que exista o amor verdadeiro e companheiro. Mas, desculpem-me, eu cada vez concordo menos com isto. Cada vez acredito mais que a paixão é realmente importante e completa o sentimento de amor. A paixão é todo o desejo, impulso, fogo que sentimos pelo outro; o amor é mais calmo, mais estável até, por isso é que muitas vezes amamos, só que a paixão não está lá, o que faz com que algo não esteja bem, sentimos que falta algo, sem saber bem o quê. É preciso que se cultive a paixão, que se vá alimentando a fogueira, porque esta paixão foi muitas vezes aquilo que nos fez dar o primeiro passo, atirar de cabeça. Esta paixão foi aquele desejo súbito de estar com o outro, de nos entregarmos, mesmo que sem segurança nenhuma, sem nada que nos dissesse "é para valer" ou "vai dar tudo certo". Esta paixão é a vontade pura e primeira do outro, da sua pessoa e do seu corpo. Acredito que é, frequentem...

a vontade

Às vezes, vem a vontade a vontade de te ver sempre de estar contigo sempre de esquecer que tudo o resto existe e aí, venho embora, e procuro voltar a mim prefiro ter essa vontade aguentá-la,  diluí-la no tempo esticá-la,  fazendo-a durar, do que acabar com ela logo de uma só vez rapidamente, sem pensar e quase sem sentir então escrevo penso, pinto,  sonho,  grito, abraço essa vontade e trago-a comigo lá no fundo do peito como companhia E quando te volto a ver deixo-a sair para a sentir de novo e deixar que me invada e me faça feliz por te ver por te ter por estar contigo  e sentir novamente aquela vontade louca sem sentido de esquecer tudo o resto e sou só ali contigo eu e a vontade e todos os outros sentimentos e sensações e tudo e tudo. Para depois voltar a mim para que possa voltar para ti sem me esquecer de quem sou e de quem tu és independentes um do outro.

Dizer adeus no trabalho

Não nos preparam para isto. Nunca ninguém me falou disto e nunca pensei passar por isto desta forma. Mas a verdade é que nas profissões da área social, não é possível ignorar a parte relacional. Aliás, essa é a parte mais importante do nosso trabalho, as relações significativas que criámos com as pessoas, com os utentes ou clientes, como lhes quiserem chamar. São pessoas. Pessoas a quem nos ligamos, de quem gostamos e de quem sentimos saudades. Sim, nem todos os dias são cor-de-rosa e nem sempre saímos do trabalho com um sorrido no rosto. Mas isso não significa que não gostemos dessas pessoas. Só que ninguém nos prepara para o momento em que temos de sair. Principalmente, quando sair não é uma decisão nossa. É um murro no estômago, e levantam-se tantas questões: - o que lhes dizer, como lhes explicar? - quando lhes dizer? - como ajudar a conter as suas emoções, quando as nossas emoções também estão à flor da pele? - como deixar para trás anos de relação, de acompanhamento, ...