Deixei o chão e abracei o ar. Despi-me do peso das roupas, dos pensamentos e dos sofrimentos. Cai no meio do turbilhão e da ilusão. Pensei que seria um abismo tudo isto, mas afinal é só uma mudança. Sou um ser mais leve, à medida que me deixo ir. É outra espécie de luz. Não morro, mas renasço, ainda nesta vida, com tempo de voar para outro lado. Libertei as ideias, elas agora andam por aí soltas, ao vento. Nunca couberam todas na minha cabeça, era urgente permitir que se fossem. Pertencem-me, mas não preciso que fiquem em mim. Tal como amor. Pertence-me, mas não fica em mim. Porque não pode, porque não deixo. Porque não nasceu para ficar preso, nasceu para ser dado, oferecido, para ser um malandro que vai com todos e com todas. O amor é um rodado, diriam alguns, mas eu gosto dele assim. Sem preconceitos, sem limites. Dá-se com todos, oferece-se a todos, não tem inibições. E eu um dia gostava de ser como ele. Um dia eu também quero ser amor, tornar-me na forma mais personificada que ele pode assumir. E só amar, ser só amor para dar, para crescer, para criar, cultivar e cuidar. Ser só amor. Ser só dar. Ser só, sentir só. Um dia eu quero ser amor e acredito que é o sonho mais realista que pode existir.
Às vezes, vem a vontade a vontade de te ver sempre de estar contigo sempre de esquecer que tudo o resto existe e aí, venho embora, e procuro voltar a mim prefiro ter essa vontade aguentá-la, diluí-la no tempo esticá-la, fazendo-a durar, do que acabar com ela logo de uma só vez rapidamente, sem pensar e quase sem sentir então escrevo penso, pinto, sonho, grito, abraço essa vontade e trago-a comigo lá no fundo do peito como companhia E quando te volto a ver deixo-a sair para a sentir de novo e deixar que me invada e me faça feliz por te ver por te ter por estar contigo e sentir novamente aquela vontade louca sem sentido de esquecer tudo o resto e sou só ali contigo eu e a vontade e todos os outros sentimentos e sensações e tudo e tudo. Para depois voltar a mim para que possa voltar para ti sem me esquecer de quem sou e de quem tu és independentes um do outro.
Comentários