Avançar para o conteúdo principal

As meias

São as meias.
Onde estão as minhas meias afinal?
Caramba, isto antes eram tão fácil, era só abrir a gaveta e tirar umas meias, todas eram minhas, todas eram tuas. Tudo era partilha. Agora foste e levaste algumas coisas. Levaste tudo, atrevo-me dizer. Só me deixaste a mim. E agora, as minhas meias, onde estão? Eram todas nossas, não havia divisão. Habituei-me de tal forma que me perdi. Já nem consigo distinguir que meias são minhas. Pensei enviar-te estas por correio, uma vez que não as reconheço, não são "minhas". Posso pedir-te para veres se tens meias minhas? Parece absurdo. Que estúpida que sou, ninguém liga a meias. São só meias. Mas preciso delas para sair de casa, ir trabalhar, fazer a minha vida. Como é que vou fazer isso sem meias? (Sem ti?) Mas afinal são só meias. Talvez vá de sandálias, é mais fácil, assim não tenho de pensar. Não preciso de abrir a gaveta e olhar para aquele monte de meias, algumas sem par, perdidas, como eu. Cinzentas, pretas, azuis? Comprávamos sempre assim, dessa cor. Dava para tudo, dava para os dois. 
Eu só queria umas meias minhas para acabar de me vestir, de me arranjar e ir para o trabalho, fazer de conta que está tudo bem, que o sol brilha, que sou super profissional e competente, que vou mudar o mundo, que quando chegar a casa tudo estará igual a antigamente, que tu já chegaste do trabalho, estás à espera para irmos sair, as nossas roupas no armário, as nossas meias na gaveta, e eu tomo um banho rápido, troco de roupa, calço umas meias e estou pronta para me ir divertir contigo. 
Vou sandálias hoje. Logo passo pela loja e compro meias, de todas as cores e feitios para animar os meus dias. As outras vou colocar numa caixa na rua, podem ser úteis para alguém. Já não são minhas, era nossas. E tu já não estás.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Paixão

Sei que a maioria das pessoas diz que a paixão é temporária, o que importa mesmo é que exista o amor verdadeiro e companheiro. Mas, desculpem-me, eu cada vez concordo menos com isto. Cada vez acredito mais que a paixão é realmente importante e completa o sentimento de amor. A paixão é todo o desejo, impulso, fogo que sentimos pelo outro; o amor é mais calmo, mais estável até, por isso é que muitas vezes amamos, só que a paixão não está lá, o que faz com que algo não esteja bem, sentimos que falta algo, sem saber bem o quê. É preciso que se cultive a paixão, que se vá alimentando a fogueira, porque esta paixão foi muitas vezes aquilo que nos fez dar o primeiro passo, atirar de cabeça. Esta paixão foi aquele desejo súbito de estar com o outro, de nos entregarmos, mesmo que sem segurança nenhuma, sem nada que nos dissesse "é para valer" ou "vai dar tudo certo". Esta paixão é a vontade pura e primeira do outro, da sua pessoa e do seu corpo. Acredito que é, frequentem...

a vontade

Às vezes, vem a vontade a vontade de te ver sempre de estar contigo sempre de esquecer que tudo o resto existe e aí, venho embora, e procuro voltar a mim prefiro ter essa vontade aguentá-la,  diluí-la no tempo esticá-la,  fazendo-a durar, do que acabar com ela logo de uma só vez rapidamente, sem pensar e quase sem sentir então escrevo penso, pinto,  sonho,  grito, abraço essa vontade e trago-a comigo lá no fundo do peito como companhia E quando te volto a ver deixo-a sair para a sentir de novo e deixar que me invada e me faça feliz por te ver por te ter por estar contigo  e sentir novamente aquela vontade louca sem sentido de esquecer tudo o resto e sou só ali contigo eu e a vontade e todos os outros sentimentos e sensações e tudo e tudo. Para depois voltar a mim para que possa voltar para ti sem me esquecer de quem sou e de quem tu és independentes um do outro.

Dizer adeus no trabalho

Não nos preparam para isto. Nunca ninguém me falou disto e nunca pensei passar por isto desta forma. Mas a verdade é que nas profissões da área social, não é possível ignorar a parte relacional. Aliás, essa é a parte mais importante do nosso trabalho, as relações significativas que criámos com as pessoas, com os utentes ou clientes, como lhes quiserem chamar. São pessoas. Pessoas a quem nos ligamos, de quem gostamos e de quem sentimos saudades. Sim, nem todos os dias são cor-de-rosa e nem sempre saímos do trabalho com um sorrido no rosto. Mas isso não significa que não gostemos dessas pessoas. Só que ninguém nos prepara para o momento em que temos de sair. Principalmente, quando sair não é uma decisão nossa. É um murro no estômago, e levantam-se tantas questões: - o que lhes dizer, como lhes explicar? - quando lhes dizer? - como ajudar a conter as suas emoções, quando as nossas emoções também estão à flor da pele? - como deixar para trás anos de relação, de acompanhamento, ...